Tudo começou numa tarde de domingo, daquelas que têm cheiro de café requentado e de lista de tarefas que nunca se cumprem. Clara estava convencida de que sua sala de estar era "minimalista", até perceber que, na verdade, era "minimal emoção". Nem um quadro, nem uma sombra, nem uma lembrança pendurada. Só uma parede branca que parecia estar esperando por algo... ou por alguém.
Foi então que, em um impulso de rolar a tela, ela descobriu
. Um catálogo tão imenso que dava a sensação de poder revestir o próprio horizonte. Havia selvas tropicais, avenidas de neon, bibliotecas infinitas e praias tão reais que se podia sentir a areia nos pés. Sem pensar muito, Clara escolheu uma cascata de água cristalina. Ela disse que era por “energia positiva”, mas na verdade foi porque combinava com as cortinas.
A instalação foi uma poesia moderna: fita métrica, estilete, cola e um tutorial no YouTube com uma música de fundo que soava mais épica do que o necessário. Em trinta minutos, sua sala já não era mais uma sala. Era um spa de luxo com vistas para um Amazonas pixelado. O gato, incrédulo, tentava caçar as folhas do mural, enquanto o robô aspirador dava um respiro existencial diante do abismo decorativo.
Os dias seguintes foram um desfile de visitas inesperadas: amigas que diziam que iam apenas tomar café, mas ficavam olhando para a parede; videochamadas onde as pessoas perguntavam se ela morava em um resort; até seu chefe, em plena reunião de segunda-feira, pediu o link do mural “para a sala de brainstorming”. Clara então entendeu que sua parede havia ascendido de “fundo neutro” a “influenciadora doméstica”.
A situação saiu de controle quando ela criou uma conta nas redes sociais. Em poucas semanas, acumulava milhares de seguidores comentando coisas como “quero viver aí” ou “essa samambaia tem mais estilo que eu”. O último que se soube é que a parede assinou um contrato de colaboração com uma marca de ambientadores e agora exige luz natural para as fotos.
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